Nessa quinzena eu propus a conhecer melhor o rap brasileiro durante a década de 90. Foi exatamente nessa época em que os grupos passaram em sua maioria a abordar temas sociais. Racionais MC’s dando continuidade no trabalho da década anterior lançou o primeiro disco só deles, intitulado “Holocausto Urbano”, mas foi em 1993 com o lançamento de Raio X Brasil que o grupo deslanchou e levou 10 mil pessoas para um show, logo em seguida sendo convidado para abrir um show da banda norte-americana Public Enemy. Grupos como Racionais MC’s são considerados rap alternativo, exatamente por não aceitar imposições das gravadoras no que diz respeito à temática de suas músicas, além disso, se preocupam em fazer uma crítica que abra os olhos de quem a ouve.
Ainda no ano de 1993, no Rio de Janeiro, MV Bill fazia parte de uma coletânea – “Tiro Inicial” – que seria decisiva para a continuidade da sua carreira. Além disso, nesse ano surgia o Planet Hemp (originalmente composto por Marcelo D2, Skunk, Rafael, BNegão, Formigão e Bacalhau). Diferentemente dos citados anteriormente, esse grupo dava um enfoque bem maior a questão da legalização da maconha, o primeiro álbum do grupo “Usuário” (foto à esquerda), com hits como “Legalize já” (veja aqui), que inclusive teve o clipe severamente censurado, vendeu mais 140 mil cópias.
Devido aos fatos que colhi, li ainda nessa quinzena a dissertação de Pedro Santos Mundim “Das rodas de fumo à esfera pública: o discurso de legalização da maconha nas músicas do Planet Hemp”. Além disso, descobri que ainda no ano de 1993 surgia em São Paulo o grupo Facção Central, composto por pessoas que cresceram expostas à miséria, à violência de todas as formas e ao tráfico de drogas, suas músicas retratavam essa realidade de forma contundente e polêmica. Por essa postura sofreram ameaças policiais, prisões e por parte da mídia forte censura, o clipe “Isso aqui é uma guerra” foi proibido de ser veículado pela televisão.
Essa não era a primeira e nem seria a última vez em que a justiça e policiais ameaçaram rappers por causa de sua postura e principalmente de suas letras. No ano de 1992 o grupo Pavilhão 9 causou polêmica com o lançamento da música “Otários Fardados” (ouça aqui). Recentemente o episódio se repetiu, nesse domingo (dia 13/05), o rapper Emicida terminou seu show em Belo Horizonte sendo levado detido por desacato a autoridade. De acordo com o cantor a detenção seria devido à sua música “Dedo na ferida”, na qual ele fala sobre Pinheirinho e critica fortemente os políticos e a polícia, já de acordo com a polícia, o rapper haveria incentivado o público a fazer gestos obscenos para os policiais. A posição da mídia diante desse episódio se divergiu em alguns pontos (Uol, Belô Notícias, G1). Essa quinzena foi extremamente produtiva e com certeza algumas descobertas ficarão de fora do post, no entanto, todas estarão presentes na apresentação final.
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