segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nuberu Bagu - Cinema histórico, violento e melodramático [Johnatan Ferreira] #2

Há que se destacar como a Nouvelle Vague Japonesa se desenvolveu num âmbito diferente dos novos cinemas que foram se irrompendo mundo afora nas décadas de 60 e 70. Não havia ainda um cinema independente expressivo como na França e as primeiras produções dessa geração foram todas dentro dos grandes estúdios.  A movimentação acontecia internamente e os jovens diretores que iam sendo contratados exerciam mais a profissão por necessidade de sobrevivência nesse Japão pós-guerra e sofrendo uma americanização intensa, do que propriamente por causa de uma paixão avassaladora para com a sétima arte.

Shinjû: Ten no amijima

Masahiro Shinoda foi um desses novos diretores, e como Lucia Nagib aponta no livro “Em torno da Nouvelle Vague Japonesa”¹  ao ser admitido na produtora Shochiku em 1953, ele reflete o estado contemporâneo e jovem da época com longas fervorosos em sua violência e melodrama.

Shinoda compreendia esse Japão antigo que deixava de existir, capturando em seus primeiros filmes esse país em ruínas, e encontrando as faces e histórias das pessoas por baixo desse desmoronamento. “Lago Seco” (Kawaita mizuumi ,1960) se foca na vida de um jovem em contato com  profundas modificações politicas na sociedade em que vive. Registrando esse mundo de intrigas com a câmera na mão que entrava em voga, o diretor também utiliza tomadas documentais para compor esse quadro de um país não muito próximo da prosperidade. Em “O meu rosto vermelho ao pôr-do-sol(Yuhi ni akai ore no kao, 1961) que trata de um grupo de matadores profissionais, encontramos no final feliz e na transformação de uma assassina sem escrúpulos numa mulher apaixonada querendo justiça, algumas fagulhas de um otimismo raro na Nuberu Bagu, em meio a um virtuosismo técnico incrível que Shinoda mantem no filme, com belíssimos planos e uma fotografia absurda.

Yuhi ni akai ore no kao
Masahiro incorpora não só um nacionalismo latente ao ver esse Japão presente e posteriormente ao voltar para a história do Japão passado, mas também por apreciar amplamente as artes que ele tanto foi influenciado. Da literatura ao bunraku (teatro de bonecos)². Se em “Assassinato” (Ansatsu,1964)  ele valoriza o drama de época numa perspectiva trágica e quase niilista , em “Duplo suicídio em Amijima” (Shinjû: Ten no amijima ,1969) encontramos uma força estilística com plena liberdade criativa. Ele já havia saído da Shochiku na época e desenvolveu este filme com grande beleza formal e enquadramentos de uma plasticidade em plena consonância com sua mise-en-scène quase teatral e uma trama auto-reflexiva mostrando a fragilidade do amor e a fatalidade do destino.

Ansatsu

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¹  NAGIB, Lúcia. Em torno da Nouvelle Vague Japonesa. São Paulo, Ed. Unicamp, 1993. 
²  idem

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