O ano é 1969, seis meses depois da promulgação do Ato Institucional nº5, em dezembro de 1968. Enquanto a imprensa tremia em suas bases, jornais ameaçavam fechar as portas e artistas 'sambavam' para continuar suas críticas políticas sem serem presos pelo regime, nasce no Rio de Janeiro o mais insano e brilhante periódico de crítica de costumes que a cidade já vira. Nas palavras do próprio Claudius (co-fundador do jornal): "Estávamos no ano de 1969, em plena vigência do AI 5, que havia suspenso todos os direitos das pessoas e se poderia torturar, matar que ninguém ficaria sabendo.É nesse clima que um bando de malucos decide fazer um jornal de oposição" (documentário O Pasquim: A revolução pelo cartum, 1999).
Dentre esses 'malucos' estavam Millôr Fernandes,Jaguar, Ziraldo, Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, Marta Alencar, Miguel Paiva, Claudius, Sérgio Augusto, Reinaldo, Hubert e Henfil. A 'patota', como era chamada a redação d' O Pasquim, discutia - com altas doses de humor e irreverência - sobre assuntos do cotidiano: drogas, feminismo, sexo, futebol, divórcio, bossa nova, cinema e muitos outros assuntos recorrentes à época. Com o passar do tempo, a linha editorial se aproximou mas da crítica política, alcançando quase simultaneamente seu ápice e sua decadência. O jornal produzia críticas sagazes através do humor inteligente - tudo nas entrelinhas, mas a censura prévia foi instituída e começaram as perseguições.
O Pasquim influenciou toda a imprensa da época, ao propor uma nova forma de se fazer jornalismo (que incluia o uso da oralidade, por exemplo). Como diria Jaguar, a imprensa tirou o terno e a gravata, e passou a escrever na língua do povo. "O Pasquim modificou a visão da imprensa naquele momento. Foi uma coisa que estourou na cara do Brasil com extrema simpatia", ressalta Millôr. A patota tanto incomodou ao regime militar que foi vítima de um atentado: uma bomba foi colocada dentro da redação, e só não explodiu por defeito. Em 1970, quase todos os redatores e editores foram presos (o que se repetiu nos anos seguintes), mas o jornal não deixou de circular: Millôr assumiu a editoria, contando com a colaboração de Chico Buarque, Antônio Callado e outros intelectuais cariocas.
Nota: continua no próximo post. Como era impossível analisar sem antes situar, esse foi mais descritivo. Pretendo ser mais analítica no próximo.
Oi, Isabella! Que bom você ter conseguido exemplares do jornal. Ótima contextualização, fico no aguardo do próximo post! Um abraço, Danila.
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