terça-feira, 29 de maio de 2012

O Pasquim [Isabella Lucas] #3


O ano é 1969, seis meses depois da promulgação do Ato Institucional nº5, em dezembro de 1968. Enquanto a imprensa tremia em suas bases, jornais ameaçavam fechar as portas e artistas 'sambavam' para continuar suas críticas políticas sem serem presos pelo regime, nasce no Rio de Janeiro o mais insano e brilhante periódico de crítica de costumes que a cidade já vira. Nas palavras do próprio Claudius (co-fundador do jornal): "Estávamos no ano de 1969, em plena vigência do AI 5, que havia suspenso todos os direitos das pessoas e se poderia torturar, matar que ninguém ficaria sabendo.É nesse clima que um bando de malucos decide fazer um jornal de oposição" (documentário O Pasquim: A revolução pelo cartum, 1999).


Dentre esses 'malucos' estavam Millôr Fernandes,Jaguar, Ziraldo, Sérgio Cabral, Luiz Carlos Maciel, Marta Alencar, Miguel Paiva, Claudius, Sérgio Augusto, Reinaldo, Hubert e Henfil. A 'patota', como era chamada a redação d' O Pasquim, discutia - com altas doses de humor e irreverência -  sobre assuntos do cotidiano: drogas, feminismo, sexo, futebol, divórcio, bossa nova, cinema e muitos outros assuntos recorrentes à época. Com o passar do tempo, a linha editorial se aproximou mas da crítica política, alcançando quase simultaneamente seu ápice e sua decadência. O jornal produzia críticas sagazes através do humor inteligente - tudo nas entrelinhas, mas a censura prévia foi instituída e começaram as perseguições. 


O Pasquim influenciou toda a imprensa da época, ao propor uma nova forma de se fazer jornalismo (que incluia o uso da oralidade, por exemplo). Como diria Jaguar, a imprensa tirou o terno e a gravata, e passou a escrever na língua do povo. "O Pasquim modificou a visão da imprensa naquele momento. Foi uma coisa que estourou na cara do Brasil com extrema simpatia", ressalta Millôr. A patota tanto incomodou ao regime militar que foi vítima de um atentado: uma bomba foi colocada dentro da redação, e só não explodiu por defeito. Em 1970, quase todos os redatores e editores foram presos (o que se repetiu nos anos seguintes), mas o jornal não deixou de circular: Millôr assumiu a editoria, contando com a colaboração de Chico Buarque, Antônio Callado e outros intelectuais cariocas. 

Nota: continua no próximo post. Como era impossível analisar sem antes situar, esse foi mais descritivo. Pretendo ser mais analítica no próximo. 

Um comentário:

  1. Oi, Isabella! Que bom você ter conseguido exemplares do jornal. Ótima contextualização, fico no aguardo do próximo post! Um abraço, Danila.

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