terça-feira, 15 de maio de 2012

O Pif Paf de Millôr - Parte 2 [Isabella Lucas] #2



A coluna Pif Paf, da Revista O Cruzeiro, caracterizava-se por realizar, predominantemente, a crítica de costumes, mesclando poemas e sátiras, crônicas e fábulas em uma mesma página. A coluna foi definida como “uma elaborada combinação  de grafismos malcomportados e tiradas demolidoras, [onde] o cético Millôr levou a sério suas máximas livre pensar é só pensar e divagar e sempre”.QUEIROZ, Andréa Cristina de Barros.PIFPAF e Millôr: a densidade em tempos de efemeridade.) 

Pif Paf enquanto coluna diferenciava-se de Pif Paf revista principalmente quanto à temática de seu conteúdo. Enquanto a primeira era mais sutil e, de certa forma lúdica (havia a seção 'Composissão Infantiu), a segunda era mais comprometida com a crítica política (mas sem deixar de lado a critica de costumes). A razão para essa discrepância é clara: uma vez inserida em um jornal de uma grande cadeia, os Diários Associados, a coluna devia alinhar-se aos interesses deste veículo, não possuindo muita autonomia - tanto é que Millôr foi demitido d'O Cruzeiro justamente por ter escrito uma fábula que questionava a condição humana e os personagens bíblicos, contrariando os interesses religiosos. Já a revista Pif Paf, um veículo da imprensa alternativa, distinguia-se dos grandes jornais principalmente pelo não alinhamento político e pela oposição aos setores dominantes, pela hierarquia redacional e pela tentativa de independência financeira. 

Justamente por realizar a crítica ao regime militar e ter sido um periódico independente e sem anunciantes, a revista Pif Paf teve vida efêmera: durou apenas quatro meses, totalizando oito exemplares. O ponto forte a ser destacado na publicação é a irreverência de seus autores, que faziam piada da dor, como gostava de dizer o próprio Millôr. O último volume da revista trazia o golpe final ao regime, a crítica mais afiada e, ao mesmo tempo, sutil:


"Quem avisa, amigo é: se o governo continuar deixando que certos jornalistas falem em eleições; se o governo continuar deixando que determinados jornais façam restrições à sua política financeira; se o governo continuar deixando que alguns políticos teimem em manter suas candidaturas; se o governo continuar deixando que algumas pessoas pensem por sua própria cabeça; e sobretudo, se o governo continuar deixando que circule esta revista, com toda sua irreverência e crítica, dentre em breve estaremos caindo numa democracia". (PifPaf, 1964: n° 8)

Obs.: o texto de referência para este post foi trocado, pois o que eu havia previsto não acrescentava muito à minha pesquisa. Por isso, ao invés de ler A Bíblia do Caos, de Millor, li o referido texto de Andréa Queiroz. 



Um comentário:

  1. Oi, Isabela, ótimo post! Parabéns!

    Em relação à referência citada no primeiro parágrafo, bastava indicar (QUEIROZ, ano) e, ao final, você poderia colocar a referência completa.

    Ou então, trazer no texto mesmo, "Como referência para esse post, partimos do texto XXX..., escrito por..."

    Só um lembrete sempre e a todos: citações literais dos textos utilizados como referência devem vir entre aspas.

    Um abraço,
    Danila.

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