segunda-feira, 14 de maio de 2012

Nausicaä, a princesa do vento e da água [Mariana Pereira] #2


Nausicaä do Vale do Vento é um dos filmes mais icônicos de Hayao Miyazaki, no qual o diretor pode demonstrar todo seu potencial como criador independente, adaptando o mundo que tinha previamente criado no mangá para as grandes telas.
A história se passa em um planeta que, devastado por uma guerra que quase dizimou a população mundial, se encontra coberto por uma floresta em estado de putrefação, lar de insetos mutantes e plantas que liberam gases tóxicos na atmosfera. Nausicaä é a princesa de uma comunidade que conseguiu sobreviver em um dos poucos vales férteis, e para defender sua terra e seu povo de ameaças estrangeiras, enfrenta vários desafios e tem seu caráter constantemente colocado à prova.

Nausicaä em seu planador: forte conexão com elementos aéreos

O filme, além de possuir storyboards primorosos e animação de primeira qualidade, também se destaca pela complexidade dos personagens e de suas motivações. Esse não é o seu típico filme épico, retratando a saga de um homem em busca da poder e riquezas, que derrota todos os seus inimigos graças à seus atributos físicos extraordinários. As cenas de ação existem, mas Nausicaä, em primeiro lugar, adota uma postura científica, buscando descobrir as razões por trás dos conflitos ao invés de sair em uma cruzada sem propósito. A princesa é forte e habilidosa, mas também intuitiva e altruísta, sendo identificada, portanto, com a água e o vento, dois elementos poderosos e fluidos. Quando perguntaram ao diretor porque a preferência por uma jovem mulher como sua personagem principal, ele respondeu: “Nausicaä não é uma protagonista que derrota um oponente, mas uma protagonista que entende, que aceita. Ela é alguém que vive em uma dimensão diferente. Esse tipo de personagem deve ser feminino e não masculino” (citado em MCCARTHY, Helen. "Hayao Miyazaki: Master of Japanese Animation. Berkeley: Stone Bridge Press, 2009). 
Podemos então perceber que as mulheres são consideradas elementos essenciais na transformação de simples solução de problemas em pensamento intricado, sensível e receptivo. As mulheres de Miyazaki são deusas da água e do vento, da mudança e da adaptação.

Tal visão também pode ser observada nos filmes que analisarei na próxima semana, “Princesa Mononoke” e “O Castelo no Céu”. 

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