domingo, 27 de maio de 2012

De volta ao que há de essencial(ismo) [Marcos Antunes] #3

Depois de um período conturbado, em que o cartunista Laerte ficou sem produzir algum conteúdo, devido aos problemas com o furto do seu acervo de trabalho que mencionei nas postagens anteriores. Como estou realmente adiantado na leitura do meu objeto de estudo proposto, decidi por passar o cronograma um pouco mais a frente e dedicar essas últimas semanas que virão à análise performática não mais das personagens produzidas pelo cartunista. E sim, do próprio Laerte como figura Queer (conceito que procuro elucidar no meu próximo post, após levantar um material mais sólido para tal) na mídia e na militância do movimento LGBTT.

Nas suas últimas tiras, Laerte tencionou o debate da representação de gênero para uma crítica à busca do essencialismo. O que pude perceber nelas foi uma glosa à necessidade de se buscar em um possível “homem primitivo” às razões para as diferentes características “inatas” entre os gêneros, que poderiam explicar por exemplo, além do que concerne ao debate do que faz um homem ser homem e uma mulher ser mulher, a suposta dominação masculina historicamente vislumbrada sobre o gênero feminino.

muriel790_thumb[3]muriel792_thumb[8]

muriel791_thumb[3]muriel789_thumb[3]

O corpo, como matéria, não pode ser ignorado, e a suposição de que o gênero é socialmente construído, ilusoriamente causaria a ideia de que existe um ponto X que determina até onde o sexo, fisiológica e biologicamente, define as características do ser e a partir de onde a construção social modela os gêneros das convenções heteronormativas. Nestas últimas tirinhas produzidas, que refletem um pouco das mudanças que o próprio cartunista tem vivido, a crítica está justamente nessa tentativa de separação e essencialização do corpo, que predominou nos debates de estudo de gênero desde os escritos de Mauss até as novas questões levantadas por Butler. Uma visão que nos leva a crer que o embate é um pouco mais complicado que aquilo que já foi abordado, e que mais formas de incitar o pensamento crítico e a reflexão acadêmica deveriam ser suscitadas, à exemplo do que tem feito arduamente nosso cartunista.

Tirinhas: http://murieltotal.zip.net/

Nenhum comentário:

Postar um comentário