segunda-feira, 28 de maio de 2012

Michael, they don't care about us [Gabriela Bianchi] #3


Pude perceber nessa quinzena, que a formação da figura do ídolo está intrinsecamente ligada à presença do imaginário. As definições, assim, acerca da construção de um indivíduo como personalidade pública, são fruto de consensos sociais, que vêm da cultura, do imaginário coletivo, das representações, estereótipos e paradigmas criados por nós mesmos, que influenciam e regulam a forma de organização da vida em sociedade.

Dentro desse universo de crenças que guiam nossa construção de discurso e imaginário, é possível perceber a presença do discurso religioso nas construções sociais e culturais, assim como no estabelecimento das noções morais. Sendo assim, é possível notar que o imaginário da morte – guia principal do meu projeto – chega carregado de purificação, como que uma espécie de beatificação daquele que já se foi, não cabendo a nós, vivos, insultar ou maldizer os que já partiram.

É por isso que, por exemplo, antes da morte Michael Jackson, sua figura estava constantemente ligada a escândalos e polêmicas como pedofilia; e com sua morte, ocorre a revisão e ressignificação desse termo como Síndrome de Peter Pan. Esse é um claro exemplo de como rótulos variam de acordo com o momento do qual se fala, sempre em condições de produção determinadas.

Sendo assim, nesse caso, podemos perceber a mudança desses estereótipos de Michael, indicadores de uma personalidade discursiva, como aponta Hulda Oliveira e Elza Couto¹: o Michael Jackson que mudou de cor, pois não queria ser negro; o Michael Jackson que tinha vitiligo; o Michael Jackson que se desfigurou depois de tantas cirurgias plásticas para esconder as suas marcas étnico-fenotípicas; o Michael Jackson pedófilo; o Michael Jackson pai, que quase jogou o próprio filho pela janela; o Michael Jackson filho, traumatizado, vítima da criação do rígido pai; o Michael Jackson milionário; o Michael Jackson falido; o Michael Jackson que, na verdade, nunca foi pedófilo, mas que apenas sofria da chamada síndrome de Peter Pan etc.

Fica assim perceptível, como que o discurso midiático lida com a formação das celebridades. Desde sua construção, até sua desconstrução e reconstrução pelo fator da morte e mudança de discurso.



Para abranger a repercussão de sua morte na mídia, teria que me detalhar em como houve esse cobertura e a possível espetacularização. Contudo, para isso, me extenderia por mais muitos caracteres. Preferi nesse post me ater a esses detalhes mais técnicos e gostaria de saber a opinião de vocês: destrinchar mais um pouco o caso, analisando as abordagens midiáticas, ou partir para outra?


¹ Construção, desconstrução e reconstrução do ídolo: discurso, imaginário e mídia - OLIVEIRA, Hulda Gomides e COUTO Elza Kioko Nakayama Nenoki do.

Um comentário:

  1. Oi Gabriela. Vejo que está conseguindo relacionar os textos teóricos com os exemplos.Muito bom. A exploração do caso Michael Jackson, em profundidade, acho que pode ficar para o relatório final.

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