Pude perceber nessa quinzena, que a formação da figura do ídolo está intrinsecamente
ligada à presença do imaginário. As definições, assim, acerca da construção de
um indivíduo como personalidade pública, são fruto de consensos sociais, que
vêm da cultura, do imaginário coletivo, das representações, estereótipos e paradigmas
criados por nós mesmos, que influenciam e regulam a forma de organização da
vida em sociedade.
Dentro desse universo de crenças que guiam nossa construção
de discurso e imaginário, é possível perceber a presença do discurso religioso
nas construções sociais e culturais, assim como no estabelecimento das noções
morais. Sendo assim, é possível notar que o imaginário da morte – guia
principal do meu projeto – chega carregado de purificação, como que uma espécie
de beatificação daquele que já se foi, não cabendo a nós, vivos, insultar ou
maldizer os que já partiram.
É por isso que, por exemplo, antes da morte Michael Jackson,
sua figura estava constantemente ligada a escândalos e polêmicas como pedofilia;
e com sua morte, ocorre a revisão e ressignificação desse termo como Síndrome
de Peter Pan. Esse é um claro exemplo de como rótulos variam de acordo com o
momento do qual se fala, sempre em condições de produção determinadas.
Sendo assim, nesse caso, podemos perceber a mudança desses
estereótipos de Michael, indicadores de uma personalidade discursiva, como
aponta Hulda Oliveira e Elza Couto¹: o Michael Jackson que mudou de cor, pois não queria ser negro; o
Michael Jackson que tinha vitiligo; o Michael Jackson que se desfigurou depois
de tantas cirurgias plásticas para esconder as suas marcas étnico-fenotípicas;
o Michael Jackson pedófilo; o Michael Jackson pai, que quase jogou o próprio
filho pela janela; o Michael Jackson filho, traumatizado, vítima da criação do
rígido pai; o Michael Jackson milionário; o Michael Jackson falido; o Michael
Jackson que, na verdade, nunca foi pedófilo, mas que apenas sofria da chamada
síndrome de Peter Pan etc.
Fica assim perceptível, como que o discurso midiático lida
com a formação das celebridades. Desde sua construção, até sua desconstrução e
reconstrução pelo fator da morte e mudança de discurso.
Para abranger a repercussão de sua morte na mídia, teria que
me detalhar em como houve esse cobertura e a possível espetacularização.
Contudo, para isso, me extenderia por mais muitos caracteres. Preferi nesse
post me ater a esses detalhes mais técnicos e gostaria de saber a opinião de
vocês: destrinchar mais um pouco o caso, analisando as abordagens midiáticas,
ou partir para outra?
¹ Construção, desconstrução e reconstrução do ídolo: discurso, imaginário e mídia - OLIVEIRA, Hulda Gomides e COUTO Elza Kioko Nakayama Nenoki do.
Oi Gabriela. Vejo que está conseguindo relacionar os textos teóricos com os exemplos.Muito bom. A exploração do caso Michael Jackson, em profundidade, acho que pode ficar para o relatório final.
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