segunda-feira, 14 de maio de 2012

A filosofia de Andy Warhol [Yuri Oliveira Guimarães] #2


Warhol consegue ser afiado e extremamente franco em suas declarações, colocando o dedo na ferida de forma simples e sincera, apesar de se tornar enfadonho e exageradamente excêntrico em alguns pontos.

Nessa quinzena, me dediquei a ler o livro "A Filosofia de Andy Warhol: De A a B e de volta a A", de autoria do próprio Warhol.

Devo pontuar que o livro serviu mais para conhecer e compreender os hábitos, a personalidade e a forma como Warhol cria do que o produto dessa criação em si. Isso é estranho se se tem em mente que a resposta que Andy dava a quem lhe perguntava quem era ele era: "Se querem saber tudo de Andy Warhol, só têm de olhar a superfície: vejam meus quadros, meus filmes e minha imagem. Aí me têm. Tudo à vista".

De qualquer forma, gostaria de dissertar sobre dois temas expostos por Warhol no livro. O primeiro é a colocação da arte como um negócio e vice-versa.

"Artista é alguém que produz coisas que as pessoas
não precisam ter, mas que ele - por alguma razão -
acha que seria uma boa ideia dar a elas"
O artista fala sobre a época em que levou três tiros e acabou internado. Diz que, mesmo sem a sua presença, o trabalho na sua empresa não parou e foi então que ele percebeu que tinha um negócio cinético. Andy não vê a si mesmo como um artista aos moldes tradicionais. Ele prefere pensar que é um "Artista Empresarial". Pontua que passou da "arte" propriamente dita para a arte de negócios quando sua empresa fechou um contrato para fornecer um filme por semana para um cinema. Muitas de suas obras eram feitas mais com o propósito de atender uma demanda, um pedido, do que para dar vazão a uma ideia.

Como disse no último post, Warhol abandonou o papel de executor da obra e tornou-se seu produtor. Isso fortalecia ainda mais sua imagem de "Empresário das Artes". "Durante a era hippie, as pessoas desprezavam a ideia de negócios - (...), mas ganhar dinheiro é uma arte e trabalhar é arte e bons negócios são a melhor arte".

O segundo tema que gostaria de tratar é a ligação que Warhol faz entre América (e tudo que é americano) e igualdade. Percebo que o artista não tem medo de assumir sua postura nacionalista e capitalista e faz isso de forma muito pouco hipócrita (algo que não é tão fácil de se encontrar). Andy defende a imagem da América como igualitária através dos seus produtos. Diz que a Coca-Cola que um mendigo podia comprar e beber é igual à Coca-Cola que Liz Taylor e o presidente bebiam. O preço é o mesmo, o produto é o mesmo e todos sabiam disso. Um mesmo programa de televisão, basicamente, é o mesmo para pobres e para ricos, ele não tem versões diferentes para cada um. Para Warhol, o que é igualitário, é americano e quando mais igualitário, mais americano é. Alguns serviços e produtos podem oferecer tratamentos especiais para certas pessoas, mas isso não seria algo americano. Ele fala ainda sobre a Europa Aristocrata e como as diferenças entre pobres e ricos eram reforçadas pela comida de cada um, que dificilmente era igual, e contrapõe isso à comida americana, pois o cachorro-quente de estádio que o presidente Eisenhower comprou para a rainha Elizabeth é o mesmo que qualquer outra pessoa pode comprar pelo mesmo valor de 50 centavos.

É claro que todas essas ideias de Warhol são extremamente questionáveis e eu mesmo discordo de muita coisa que ele defende no livro, mas não deixa de ser algo que faz pensar. Para mim, a experiência mais interessante em ler esse livro foi ver que, mesmo com o não-engajamento, a frieza e o distanciamento de Warhol, ele me fez refletir apenas através de uma exposição.




WARHOL, Andy. A Filosofia de Andy Warhol: De A a B e de volta a A. Rio de Janeiro: Editora de Livros Cobogó, 2008.

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