segunda-feira, 14 de maio de 2012

Ainda bem que vivemos numa sociedade feliz! (Só que não) [Leticia Garcia] #2

Para analisar a sociedade pós-moderna, Bauman parte do preceito da diferenciação da sociedade de produtores (que vigorava na modernidade) e da sociedade de consumidores (da qual nós fazemos parte).
O primeiro antagonismo é a diferença entre consumo e consumismo. Consumo é algo natural, inerente à história humana e tem como principal função fixar padrões nas relações inter-humanas; já o consumismo é o próprio fim: a satisfação não está em usufruir do produto desejado e sim no ato mesmo de consumo. Essa é a identidade na pós-modernidade. Pessoas e grupos são reconhecidos justamente pelo que costumam consumir. Basta navegar por profiles em redes sociais como Orkut e Facebook que lá está no que as pessoas querem dizer sobre si mesmas os livros que lê, as comunidades que participa, as páginas que curte.
Na sociedade de produtores o objetivo da prática do consumo era a segurança em longo prazo, o foco estava na durabilidade e solidez do produto. Opostamente, na sociedade de consumidores os desejos são insaciáveis, vivemos uma ‘cultura agorista’ (definição de Bertman) e hedonista na qual precisamos satisfazer nossos desejos imediatamente. Os objetos de desejo têm a obsolescência embutida, são rapidamente consumidos e descartados. Isso se aplica justamente nos relacionamentos interpessoais, nos quais a postura carpe diem é levada ao extremo num ato egoísta e individualista. Maffesoli disse que o tempo pós-moderno não é cíclico e nem linear, mas pontilhista, no qual cada ponto (que não tem largura, altura nem profundidade) é um big bang em potencial – mas se não for... pois bem, passemos ao próximo ponto.
Outras características próprias da sociedade de consumidores são a pressa – que é motivada pelo desejo de ‘adquirir e juntar’, mas se torna imperativa pelo ‘descartar e substituir’ –, o excesso de informação que é muito difícil de ser filtrado e a melancolia (entorpecimento da capacidade de diferenciação de importância e de verdade).
Nisso tudo, o valor supremo desse tipo de sociedade é a vida feliz: é prometida a felicidade terrena, sem mais adiações. Entretanto – que paradoxo! – é na insatisfação dos consumidores que a sociedade se sustenta. A sociedade de consumo só dará certo enquanto seus membros não forem completamente felizes.

2 comentários:

  1. Oi, Letícia!

    Estou meu perdida em relação ao seu cronograma. Você fez algumas modificações? Por favor, me mande por email.

    Quanto ao post, ele traz boas reflexões sobre a sociedade em que vivemos, o insight sobre os perfis na internet foi bom e deveria ser mais bem explorado.

    Já que você está trabalhando com as ideias de Bauman como objeto, seria interessante apresentar contrapontos em relação à perspectiva desse autor ou ainda complementá-las com formulações de outros autores.

    Um abraço,
    Danila.

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  2. Olá Danila!

    Fiz algumas modificações sim, e já havia te enviado por e-mail. Mas te encaminhei de novo agora. Recebeu?

    Obrigada pelas dicas!

    Abraço!

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