segunda-feira, 28 de maio de 2012

Nuberu Bagu - Desenquadramento cinematográfico e ousadia formal [Johnatan Ferreira] #3


Se Nagisa Oshima e Masahiro Shinoda transportaram a Nuberu Bagu para o âmbito politico japonês, Yoshishige Yoshida fez o contrário, aproximando seus filmes de um intelectualismo que valorizava antes da violência, o diálogo, apoiado num existencialismo que se voltava para reflexões interiores. Ainda assim alguns de seus longas representam toda a movimentação insurgente da época, partindo de uma desconstrução formalista absurda. Longe de conceber planos estáticos e do nível do chão imaginados outrora por Ozu, Yoshida vai longe e joga para os ares qualquer concepção antes imposta no país. Aqui, é o desenquadramento que fala e as paredes respondem silenciosas no vazio deixado pelos personagens.

Pode-se dizer que Yoshida foi talvez o único diretor dessa geração que dialogou de forma mais consistente com a cultura europeia. No livro “Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa¹ , a autora relata que o diretor estudou a cultura francesa na universidade, vendo muitos filmes de  Resnais, Malle e Clement. Mais tarde, ele entraria no estúdio Shochiku, lançando anos depois “As Termas de Akitsu” (Akitsu onsen, 1962).

Akitsu onsen
Ainda que se insira nessa geração, o filme tem seu diferencial pois não é a opção formal que é radicalizada, e sim sua narrativa. A trama que conta da amada que aguarda por anos a volta do seu amor, se desenvolve pela espera, explorando a questão do tempo e quase esvaziada de maiores histórias. Dois anos depois, quando Yoshishige sai da Shochiku e começa a filmar através de sua própria produtora, ele passa a explorar ainda mais a linguagem cinematográfica com experimentações fantásticas. “A Mulher do Lago” (Onna no mizuumi, 1966), ao contar as aventuras sexuais de uma personagem é um dos primeiros passos desse cinema jovem e enérgico, e que pedia reformulações. Mas é com “Eros + Massacre” (Erosu purasu Gyakusatsu, 1969), meu filme preferido do diretor, que ele torce e distorce, usa o presente e o incorpora ao passado, compondo uma narrativa totalmente disjuntiva através de dramas femininos, elevando tudo à potência um ano depois com “Purgatório eroica” (Rengoku eroica, 1970) rompendo de vez com o cinema clássico japonês ao adotar planos perturbados e totalmente fora do lugar. Uma estética radical, que complementa todo o vazio existencial que Yoshishige Yoshida quer retratar.


trailer de Eros + Massacre


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¹  NAGIB, Lúcia. Em torno da Nouvelle Vague Japonesa. São Paulo, Ed. Unicamp, 1993. 

3 comentários:

  1. Oi, Johnatan, seu post está em branco. Ocorreu algum problema? Um abraço, Danila.

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    1. Oi Danila, ocorreu sim! O navegador que eu estava usando não postava de jeito nenhum, tentei por Html e toda hora que eu postava só saia a primeira foto e um código aleatório e as vezes nem isso. Tentei mudar a propria foto, o título e nada. Hoje, postei por outro computador e funcionou perfeitamente. Acho que o post está correto. Se encontrar algum erro por favor, me indique!

      Abraço, Johnatan.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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