Quatro amigos fazem uma viagem a Las Vegas a fim de dar a um
deles uma despedida de solteiro inesquecível. Ironicamente, quando acordam no
dia seguinte, nenhum deles se lembra de nada do que aconteceu – nem de onde
está o noivo. Esse é o resumo de Se beber
não case, comédia lançada em 2009 que foi sucesso de bilheteria e ganhou
uma sequência.
A narrativa tem como principais quatro amigos: Doug, o
noivo, que quer apenas uma despedida de solteiro tranquila; Phil, o adulto
irresponsável que odeia sua vida de casado; Stu, preso num relacionamento em
que é constantemente oprimido; e Alan, o "esquisitão" que só foi
convidado por ser parente da noiva. Apesar de ser um dos principais, Doug não é
um dos heróis do filme, uma vez que não passa pela jornada ao longo da história
– esse personagem é antes a recompensa
buscada pelos heróis do que um herói propriamente dito.
As transformações porque passam Phil, Stu e Alan ficam
evidentes nas cenas finais do filme: Phil abraça sua esposa e filhos, Stu cria
coragem para terminar o relacionamento, e Alan se torna parte do grupo,
deixando de ser o esquisito e se tornando um deles. Contudo, apesar de ser
possível identificar momentos que marcam mudanças nesses personagens e na
dinâmica do grupo, essas mudanças não estão necessariamente relacionadas ao que
é retrata nas cenas finais.
Luzes da Ribalta,
drama¹ de Charles Chaplin lançado em 1952, também se baseia em mais de um
herói. O filme conta a história de Calveiro, um comediante aposentado que se vê
com a tarefa de cuidar de uma jovem dançarina, Terry, atormentada por diversos
problemas psicológicos que entram no caminho de sua carreira. Por ser de outra
época, o filme segue um modelo diferente de Se
beber não case. Seu ritmo é perceptivelmente mais lento e a história é mais
longa, sendo composta de diversas "micro-jornadas" que dão
continuidade uma a outra.
Algo que fica muito evidente em Luzes da Ribalta é a dinâmica de morte e renascimento dos heróis do
filme. Campbell afirma² que o herói deve morrer simbolicamente (de forma a
aniquilar seu ego) para renascer, também simbolicamente, com uma melhor
percepção do mundo ao seu redor. Em Luzes
da Ribalta, essa dinâmica ocorre o tempo todo, alternando os heróis: quando
Terry está debilitada, Calveiro assume o papel de mentor que oferece apoio; mas
assim que esse mentor sucumbe, passando por sua morte simbólica, Terry renasce,
mais iluminada e segura, e toma para si o papel de mentora. Isso acontece de
maneira alternada em diversos momentos filme.
Vários estágios da jornada ficaram evidentes nos dois
filmes; de formas diferentes em cada um deles, claro. Contudo, por motivos de
limite de caracteres, abordarei mais esses estágios no meu relatório final.
¹ A proposta original era que fossem analisados filmes de
mesmo gênero a cada quinzena. Quando notei o erro no cronograma, considerei
trocar de filmes, mas concluí que Luzes
da Ribalta, devido principalmente ao contexto de produção cinematográfica
em que foi realizado, ofereceria uma análise interessante, e, portanto, decidi
mantê-lo.
² CAMPBELL, J. O herói de mil
faces. 9ª edição. São Paulo: Editora Cultrix/Pensamento, 2004.
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