segunda-feira, 28 de maio de 2012

Cinema e filosofia? [Isabela Guimarães] #3


Haydee, personagem de "A colecionadora" (1967), de Éric Rohmer

Nunca imaginei assistir filmes em que o enredo por si teria menor importância que os próprios diálogos dos personagens. Pois assim são os filmes do diretor Éric Rohmer, nos quais a densidade dos diálogos, ou melhor, das discussões filosóficas, são aspectos centrais nos filmes desse diretor. Isso me lembra uma característica, inclusive, já estudada no primeiro post: os filmes da Nouvelle vague dizem muito sobre seus próprios diretores. Com Rohmer não é diferente: seus filmes são característicos dele, porque são excessivamente filosóficos: há "um modelo de dramaturgia típico de Rohmer, no qual os questionamentos profundos que acometem os personagens emergem de debates cotidianos sobre comportamento, sexo e religião." (1)

Sobre um dos filmes a que assisti nessa quinzena, A colecionadora (1967), foi dito: "Esse [o filme] seria o propulsor de filmografia singular, calcada na discussão de questões morais a partir da estética que prestigia o diálogo e descarta os malabarismos técnicos." (1) A questão da técnica é claramente descartada, pois, nessa mesmo filme, há uma cena em que se vê a mão/pele de alguém que está filmando, além dos cortes que parecem ser um pouco aleatórios em algumas cenas (por exemplo, há um corte durante um diálogo. Mesmo que não importasse para o entendimento do filme, considerei isso como falta de técnica).

Pesquisei um pouco mais da biografia desse cineasta que, além de fazer filmes e dirigí-los, era professor de francês e de literatura - talvez daí que venha o caráter central do diálogo, dos significados que as coisas têm e seus respectivos questionamentos (presentes em todos os filmes que vi nessa quinzena). Além disso, ele foi redator-chefe da Cahiers du cinema,em 1957 (revista importante para a Nouvelle vague, onde Truffaut publicou Uma certa tendência do cinema francês - primeiro post).

Aqui, posto um exemplo desses diálogos, melhor dizendo, debates: 


Além disso, considero importante destacar a influência desse diretor no movimento da Nouvelle Vague: 

Outro importante aspecto desse diretor é a abordagem moral de seus filmes. No "Minha noite com ela" (1969), percebe-se a importância da religião na conduta da mulher, verificada pela trajetória da escolha do personagem principal: em detrimento da atração que sentia pela recém-divorciada, ele prefere se envolver num relacionamento com a mulher séria, que frequentava a mesma igreja que ele. Daí a característica de abordagem moral desse diretor, porque ele reafirma, dentre outros, esse conjunto de valores - principalmente religiosos - que conferem à mulher católica uma maior credibilidade, por exemplo. O filme, portanto, reafirma valores. 

Um trechinho do filme:


Referência bibliográfica:
(1) Catálogo do Centro Cultural do Banco do Brasil do ano de 2008 sobre a Nouvelle Vague (disponível online: http://www.lavoroproducoes.com.br/site/downloads/NV.pdf
(3) Wikipédia


Um comentário:

  1. Oi, Isabela! Excelente post! Você se apropriou muito bem das sugestões que fizemos no encontro presencial. Um forte abraço, Danila.

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