quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma realidade montada: Sergei Eisenstein [Raissa Fernandes] #4

Seguindo a principal veia das primeiras vanguardas, o construtivismo russo também iria negar a “arte pura”. Os russos iriam deixar de lado o naturalismo e propor uma nova noção de realidade, uma idéia de realismo na sua essência. A idéia de arte como imitação da vida era considerada pelos artistas como inútil. O escritor Ossip Brik questiona: “O que um sapateiro fabrica? Sapatos. E um artista? Nada”. Assim, a proposta construtivista era a de que a arte fosse “parte integrante da vida” (Rodtchenko). Há assim uma reconfiguração da função artística e uma relativa autonomia da arte. Dentro do construtivismo há alguns critérios estéticos como a fragmentação, os traços geométricos, o abstrato e a montagem. Porém o autor François Albera nos alerta a não limitarmos o movimento construtivista a essas características estéticas porque o movimento foi muito pautado também por motivos políticos e sociais. Ele vai dizer que: “O procedimento construtivista opera sobre a dimensão social das práticas artísticas. Nenhum artista russo do período parece ter ficado de fora dos acontecimentos sociais e políticos.” E é dentro desse contexto que o pai da montagem, Sergei Eisenstein produziria seus filmes. Neste post, me deterei a comentar um de seus mais importantes filmes: O Encouraçado Potemkin. Um dos maiores clássicos do cinema, o filme encomendado pelo governo revolucionário russo foi muito além das expectativas. A obra narra a revolta dos marinheiros de Potemkin que precedeu a revolução de 17. Esgotados pelos mal tratos e precárias condições de vida os marinheiros se revoltam e tomam o navio. Em resposta o governo assassina centenas de pessoas que assistiam do porto. Essa é uma das cenas mais dramáticas e bem feitas do filme. O diretor alterna closes de rosto, dos soldados, das armas, câmeras de cima, planos detalhes e monta essas cenas de forma a construir uma narrativa enternecedora. O trabalho de montagem do diretor também é facilmente percebido nas cenas de luta e na cena final do provável confronto com o outro navio, em que a montagem alternada de planos causa um suspense enorme até o desfecho. E é por meio da estética construtivista da fragmentação, que Eisenstein dá o seu recado político e propõe uma arte que vai muito além da mimese. Referência: Albera, François: Eiseintein e o construtivismo russo, São Paulo, 2002.

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