segunda-feira, 11 de junho de 2012

Recepções diferentes para diferentes épocas [Carla Resgala] #4

O filme “Mãe e Filha” (1988), criado pela Deck para a Phebo, retrata uma simples cena do cotidiano entre mãe e filha. O desafio deste comercial foi, de acordo com Vizeu, mudar a imagem da Seiva de Alfazema de modo a tentar rejuvenescer produto, assim como o da Valisere do 3º post, e popularizá-lo em meio às filhas das tradicionais usuárias do perfume o associando a algo bom que passa de geração para geração. Um filme de extrema sutileza e beleza, mostrando a curiosidade e admiração de uma menininha em relação a sua mãe.

Importante ressaltarmos a sensibilidade e docilidade com que o filme foi recebido na época. O que poderia ter sido um filme ‘erotizado’ acabou por se transformar em um comercial que transmitia muita delicadeza e cumplicidade na relação clássica (e atemporal) entre mãe e filha. Mas no contexto social dos dias de hoje, um comercial como esse seria, com certeza, inaceitável, pois a nudez infantil é proibida, considerado pedofilia.

No mesmo ano (1988) foi produzido o filme Passeata, criado por Olivetto para Staroup. Ano em que a repressão da ditadura militar ocorrida anteriormente ainda estava na memória da população. Mesmo fora deste contexto, o comercial se faz entendível e identificável a qualquer nacionalidade (ponto importante para veiculação em um festival internacional).

No enredo a passeata foi resignificada, relacionando força, ousadia e resistência do jovem à qualidade e resistência do produto; também, complementarmente ao conteúdo da locução, a propaganda tornou-se divertida e irônica, amenizando um pouco o ‘peso’ do contexto histórico. É interessante observar que mesmo que Passeata mostra a rebeldia dos jovens, mostra também a obediência a normas de consumo ao ver que todos os revolucionários aparecem praticamente uniformizados com os derivados do Jeans. Tanto a presença quanto as ações dos policiais, no sentido de reprimir o movimento dos jovens, contribuíram, de acordo com o artigo de Formiga Sobrinho, para tornar o produto objeto de desejo de uma geração irreverente.

2 comentários:

  1. Mais uma vez, excelente trabalho. Percebo que a mudança da proposta inicial não comprometeu a qualidade final das postagens.

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  2. Obrigada Regiane :)Fico extremamente feliz de saber disso.

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