segunda-feira, 11 de junho de 2012

Leitura de textos acadêmicos [Clara Novais] #4


Nota: Para confirmar minha conclusão em relação à estréia de novelas, busquei reportagens sobre a estréia de “Cheias de Charme”. O EM Cultura deu a mesma abordagem de sempre: capa do TV e matéria desenvolvida nas páginas centrais de tal no dia anterior à estréia; Simone Castro chamou atenção para o sucesso da novela já no início em sua coluna “De Olho na Telinha”, assim como fez com “Carrossel”. Já no Ilustrada, Cheias de Charme não chegou a ganhar capa, como a novela das nove da mesma emissora, “Avenida Brasil”, mas foi abordada em diversas pequenas matérias anteriormente à sua estréia, ganhando muito mais destaque que “Carrossel”, do SBT. 

Relembrando que alterei meu cronograma. Nesta quinzena li "GADINI, Sérgio Luis. Grandes estruturas editoriais dos cadernos culturais - Principais características do jornalismo cultural nos diários brasileiros. Revista Fronteiras, set/dez 2006" para entender melhor meus objetos de trabalho. Entretanto, não encontrei grandes novidades. O texto é basicamente sobre a estruturação dos cadernos de cultura brasileiros. Ele não foge do que eu falei em meu primeiro post. 

Encontrei então o texto "SING, Marcella. Crítica Em Cultura: Uma análise do Jornalismo Cultural no Jornal Estado de Minas. Centro Universitário Newton Paiva. 2008". Que trata, além da análise do jornalismo cultural no Estado de Minas, de introduzir como esses cadernos surgiram no Brasil. Achei interessante para compor meu trabalho. Segue dados históricos que o texto apresenta:

  • Século XVII . Londres. Os jornais The Transactions of the Royal Society of London e News of Republic of Letters foram os primeiros a publicar notícias de eventos culturais.
  • Século XVIII. Londres. Lançamento da revista londrina The Spectator. Primeira a tratar de questões culturais e políticas. Linguagem diferenciada por meio de críticas formentadas e crônicas. A partir dela, o jornalismo cultural ganhou espaço nos jornais.
  • O ingês Samuel Johnson foi o responsável por dar a característica principal do jornalismo cultural: a crítica. 
  • Século XX. Brasil. Revista O Cruzeiro era a principal publicação cultural brasileira. Política e cultura por meio de linguagem acessível, reportagens investigativas, artigos, contos, humor e ilustrações.
  • Década de 1950. Brasil. Jornalismo se tornou mais objetivo e técnico. Cadernos de cultura foram inseridos aos jornais.
  • 1956. Caderno B do Jornal do Brasil: primeiro caderno cultural brasileiro.
  • 1990. Além das 7 artes - literatura, teatro, pintura, escultura, música, arquitetura e cinema - o jornalismo cultural passa a tratar também de moda, gastronomia e design.
10 de dezembro de 1958: primeira edição do ilustrada. Apenas dois anos após do primeiro caderno cultural brasileiro. (Informação retirada do release do livro de Marcos Augusto Gonçalves  "Pós tudo: 50 anos de Cultura na Ilustrada. Publifolha. 2008". O Ilustrada e o Caderno B eram os principais cadernos de cultura brasileiros na época.

Não encontrei a data da primeira edição do Estado de Minas que continha o EM Cultura. Procurei em outros trabalhos acadêmicos e nada. Aliás, encontrei mais de um trabalho acadêmico que analisa o caderno EM Cultura e nenhum sobre o Ilustrada. Então não me ative as analises feitas ao caderno mineiro, para que não houvesse dissiparidade. Da mesma forma, as analises feitas se atinham a um período exato, 2008 em um caso, 2010 em outro. Poderia compará-los entre si e com os dias atuais, mas não encontrando material para fazer o mesmo com Ilustrada, desisti da idéia.

Ainda em "Crítica Em Cultura: Uma análise do Jornalismo Cultural no Jornal Estado de Minas", Marcela Sing ressalta que o advento da indústria cultural trouxe uma modernização da edição cultural jornalistica, sendo responsável pela massificação cultural. Ela apresenta a seguinte citação:  "A cultura, feita em série, industrialmente, para um grande número, passa a ser vista não como instrumento de livre expressão, crítica e conheci mento, mas como produto  trocável por dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer outra coisa. (COELHO, 1991, p. 11)."

Ocorreu uma diminuição do espaço de críticas levando à uma superficialidade das matérias, uma vez que a maior parte de seu espaço foi tomada para divulgação de eventos e de programação televisiva. Hoje em dia os cadernos culturais procuram mais agradar aos "clientes" que compram espaço na publicação do que em dar qualidade as suas produções, assim perdendo seu caráter informativo e prejudicando a credibilidade dos canais de massa. Ao mesmo tempo que a industrialização tornou a cultura um produto a ser vendido, ela também possibilitou a modernização dos meios de comunicação e a democratização da cultura. (MORIN, 2000,p.25).

Essas analises feitas no trabalho de Marcela demonstram o que foi percebido nas minhas feitas sobre shows. Bob Dylan, um dos maiores artistas de todos os tempos, se apresentou em Belo Horizonte e isso só foi divulgado, focando mais nos fãs que no artista. Nenhuma crítica sobre o show foi publicada no jornal impresso. Já o Lollapalooza, que ocorreu em São Paulo, ganhou crítica do jornal mineiro. O Ilustrada deu destaque para ambos os acontecimentos.

O Ilustrada dá muito mais espaço para as telenovelas da Rede Globo, enquanto o EM Cultura divulga as estréias com o mesmo destaque, independentemente do canal. 

Desde que notei isso, imaginei interesses financeiros. Agora confirmo isso com a analise feita por Coelho e apresentada por Marcela Sing em seu trabalho.O que me causa certa tristeza.

O jornalismo, há tempos, se tornou um produto a não ser apenas consumido, mas  também vendido. Ele depende de publicidade para se manter e com isso acaba por ser regulado. Não se pode falar mal dos patrocinadores, por exemplo. Ao mesmo tempo, que algumas matérias são feitas porque alguém pagou para que isso ocorresse, ou ainda em casos que jornalistas são convidados a cobrir um show, por exemplo, e são hospedados pela produção em hotéis cinco estrelas e recebem jantares caros. Como críticar o evento, se a produção cuidou tão bem da viagem do jornalista? É um conflito ético e que está longe de ser resolvido, aceito ou negado.  

2 comentários:

  1. Ei Clara, parabéns pelo esforço em buscar textos acadêmicos sobre o tema. Também achei a decisão acertada de não analisar só o EM Cultura, já que não foram encontradas pesquisas sobre a Ilustrada. O mais rico do seu trabalho é exatamente as suas percepções sobre a influência dos interesses financeiros, a diferença na abordagem crítica, o espaço destinado a um ou outro tema, etc. Assim como mencionei no último post, a riqueza está nas suas percepções! Penso que está no caminho certo.

    ResponderExcluir
  2. Só mais uma coisa! A questão da influência comercial nos conteúdos não está restrita aos cadernos de cultura. É muito comum especialmente nos cadernos de veículos e turismo, mas se mostra em outros também. É um eterno conflito ético, bem colocado por você. Por outro lado, é difícil afirmar com precisão que a ausência se crítica se deve a isso, não acha?

    ResponderExcluir