domingo, 10 de junho de 2012

Ernesto Varela – [Débora Vieira] #4

Nessa quarta postagem vou comentar a respeito do personagem de Marcelo Tas, Repórter Ernesto Varela, que trouxe uma contribuição muito grande para a televisão brasileira  com a utilização do humor para tratar assuntos sério. A referência que utilizo para esta postagem é o livro “Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro” organização de Arlindo Machado.

Com a entrada dos vídeos e suas tecnologias no Brasil, em meados da década de 70, surgiram várias produtoras independentes interessadas em produzir seus próprios vídeos, curtas, filmes e programas de TV. A Olhar Eletrônico era uma delas, uma produtora de vídeo independente de criação coletiva, formada por jovens entre os 18 e vinte e poucos anos. O primeiro trabalho da Olhar na televisão foi um convite do jornalista Goulart de Andrade. Este chamou os integrantes da Olhar a produzir e apresentar um programa ao vivo na TV Gazeta com data de estréia para o dia 22 de agosto de 1983. Todos da Olhar ficaram bastante animados, o sonho de conquistar um espaço na TV finalmente se realizava, e com ele veio a realidade e o aperto de ter idéias para ocupar as horas do programa.

Uma das características do trabalho na Olhar Eletrônico era a criação coletiva, todos faziam um pouco de tudo e se revezavam nas suas funções. De acordo com o depoimento de Marcelo Tas presente no livro “Todo mundo passava por cada etapa do processo da realização: da direção da Kombi a direção do programa de TV. Incluindo aí fazer a câmera, fotografia, edição, texto, cenário e apresentar o programa”. Esta última função era a que menos agradava a maioria do grupo, e foi em um desses revezamentos que surgiu o ilustre personagem de Marcelo Tas: o repórter Ernesto Varela. Para disfarçar a timidez e a falta de jeito com a câmera, Tas apresentou o programa com uma voz diferente, em uma situação sem muito sentido e um modo desajeitado de olhar para a câmera. O “nascimento” de Varela se deu quando Tas fez uma brincadeira no ar sobre o tempo de Santos, chovia muito no local, e Marcelo Tas entra ao vivo dizendo que fazia 85 graus. A partir desse episódio foram criadas várias outras situações de humor para Ernesto Varela, e este começou a cobrir importantes temas e acontecimentos nacionais.                    

A primeira grande contribuição de Ernesto Varela para a televisão brasileira foi a abordagem de temas sérios com humor. O repórter fazia perguntas que o povo queria saber, mas que ninguém tinha coragem de perguntar. Essa forma de fazer humor com fatos sérios, a paródia do jornalismo para satirizar fatos e acontecimentos iniciada por Ernesto Varela no Brasil tem desdobramentos ainda hoje. Programas como Furo MTV e Custe o que Custar (CQC) se apropriam do humor para noticiar os fatos e criticar a política, a educação e outros assuntos de interesse nacional.

Um dos parceiros de Marcelo Tas na construção do personagem Ernesto Varela foi o seu companheiro da Olhar Eletrônico Fernando Meire. Juntos eles criavam e inventavam situações em que Varela pudesse atuar. Além de ajudar na criação, Fernando Meire também era o câmera de Varela, que também interpretava um personagem, o câmera Valdeci, com o qual Ernesto Varela sempre interagia.

A segunda grande contribuição de Varela para a televisão foi estabelecer um novo formato de telejornalismo. Misturando ficção, realidade, humor com seriedade e interagindo com o câmera Valdeci, fazendo com que este fosse mais um personagem da narrativa.

Podemos dizer então que Ernesto Varela revolucionou o humor e o jornalismo brasileiro, influenciando programas que estão em voga atualmente como o Furo MTV.

Vejam abaixo alguns exemplos de vídeos do Ernesto Varela, CQC e Furo MTV. Todos abordam temas sérios, no caso a política com um humor crítico.

Ernesto Varela
Ernesto Varela

 

CQC

 

Furo MTV

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