segunda-feira, 25 de junho de 2012

Efeito colateral [Leticia Garcia] #5


No último capítulo do livro Vida para consumo, Zygmunt Bauman fala sobre as baixas colaterais do consumismo. O assunto das redes sociais não é mencionado, mas dá pra entender e perceber muito da relação da formação de identidade na modernidade líquida no mundo fora da virtualidade.

A colateralidade é um conceito há pouco introduzido, que segundo o próprio autor significa “desculpar ações prejudiciais, justificá-las e eximi-las de punição com base na ausência de intencionalidade” (p. 149). É o que acontece, por exemplo, quando um homem bomba cumpre seu trabalho. O alvo é atingido, mas uma grande parcela de inocentes é com ele atingida, e esse é o efeito colateral: o grupo de inocentes não fazia parte do alvo, mas fez parte do processo e do resultado enquanto o objetivo estava sendo cumprido.

Acontece que o principal efeito colateral do consumismo pós-moderno é a subclasse. Isso mesmo, subclasse. Então, a ordem social mundial não é mais posta em diferentes classes (como se não bastasse), mas em classe e não-classe. Os membros da subclasse são os “consumidores falhos”, pessoas sem valor de mercado. Eles não faziam parte do alvo do consumismo, mas acabaram sendo afetados por ele. E como efeito colateral, de maneira completamente negativa.

Bauman diz que os pobres de hoje são os “não consumidores”. Por causa dessa falha no ato consumista do pobre, ele também não tem nenhum tipo de afirmação social. Os mais pobres como os mendigos e moradores de rua são desobrigados de vida social, comunitária, e, segundo o autor, de deveres éticos também. Eles simplesmente não são enxergados. Uma das possíveis explicações pode ser que, como acredita a doutora Paula Sibilia, na pós-modernidade se é o que se vê. A crença naquilo que não se vê, que não é palpável foi completamente enfraquecida e finalmente descartada pela grande maioria (como a beleza interior). Visibilidade é identidade e autenticidade. Logo, os “consumidores falhos” estão longe de ser alguém.

Um comentário:

  1. Oi, Letícia, ótimo você ter incluído a Paula nas suas observações. Senti falta apenas da perspectiva crítica do último post. Um abraço!

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