segunda-feira, 11 de junho de 2012

Presença de Espírito [Gabriela Bianchi] #4

Muitas vezes, escritores hoje tidos como grandes e talentosos eram, em vida, desconhecidos e pouco falados pela sociedade de sua época. O sucesso chegou apenas depois da morte e nunca foram reconhecidos por sua literatura enquanto estavam vivos.

“Eram escritores que viviam à margem, excluídos e que, por várias razões, após sua morte, foram alçados à condição de ‘clássicos’”, afirma Kênia Maria de Almeida Pereira, professora de Literatura Brasileira da Universidade Federal de Uberlândia.

As hipóteses para as razões de isso acontecer com os escritores são um pouco distintas das razões para celebridades da música e da grande mídia. A incompreensão dos contemporâneos e da sociedade da época, como aconteceu com Oswald de Andrade, ou mesmo o preconceito contra o autor – foi o caso de Lima Barreto, visto como alcoólatra e pobre. Além de que o aparecimento de novas ciências e a emergência de novas “eras artísticas”, o que leva à reinterpretação dessas obras com o tempo.

Dessa forma, autores antes ignorados e considerados de mau gosto estético são trazidos à cena do debate e reavaliados, como Marquês de Sade e sua literatura erótica. O reconhecimento também pode estar relacionado até mesmo à sorte de tal escritor nascer no momento certo, no lugar certo. Muitos são vítimas de seu tempo, parece que nasceram cem anos adiantados, são incompreendidos e refutados quando ainda vivos.

Será que Shakespeare seria o centro da tradição literária se tivesse nascido na África, e não na Inglaterra? Afinal, a literatura e a fama de seus autores estão de alguma forma, atrelados à política, à economia e à religião, enfim, à cultura e à abordagem midiática daquele contexto.
 
O “Saraiva Conteúdo”, da livraria Saraiva fez uma lista dos autores que só ganharam importância depois de passarem desta para melhor. O reconhecimento tarda, mas não falha; e os grandes gênios incompreendidos são:

Emily Dickinson - Poetisa americana nascida em 1830 e morta em 1886, ela foi considerada uma escritora moderna. Alguns costumavam chamá-la de “Grande Reclusa”, por sua personalidade introspectiva e solitária. Escreveu 1800 poemas e 1000 cartas, mas não chegou a publicar nenhum livro em vida.

Herman Melville - No início, até teve reconhecimento por suas obras, mas a popularidade foi caindo ao longo dos anos, até que ele fosse quase completamente esquecido na velhice. A fama só veio mesmo quando seu talento foi percebido pelos críticos, na década de 1920, mais de 20 anos após sua morte.

Lima Barreto - Foi desprezado e não tinha condições financeiras de bancar a publicação de seus escritos. Era sempre apontado como louco, beberrão, socialista e neurastênico. Morreu aos 41 anos de idade devido aos problemas psiquiátricos que tinha, após ser internado em vários hospitais. Só depois disso obteve o devido reconhecimento de suas obras literárias.

Marquês de Sade - Com o desenvolvimento da psicanálise, alguns autores, antes considerados hereges e até pornográficos, tiveram seus escritos reinterpretados e reconhecidos como reflexões profundas sobre o ser humano e o desejo.

Oswald de Andrade -
O modernismo proposto por ele não foi bem aceito pelas pessoas da época, o que impediu que ele obtivesse o merecido reconhecimento. “Enquanto estava vivo, era considerado mais um piadista, um bon vivant, um rebelde, do que propriamente um poeta excepcional”.

Franz Kakfa - Sua obra – em grande parte inconclusa e póstuma – compõe, hoje, o cânon que exerce a maior influência na Literatura Ocidental.

Um comentário:

  1. Ei, essa lista da Saraiva foi um achado! Coloque por favor a fonte dessas informações sobre Lima Barreto e Oswald. São todas da "Saraiva Conteúdo"?

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