quinta-feira, 14 de junho de 2012

Identidade líquida [Leticia Garcia] #4


A construção da identidade na modernidade líquida (pós-modernidade) para Bauman é dada por meio de um desejo implacável de “estar à frente da tendência de estilo”. Essa é uma expressão bem usada nas propagandas de moda. “Estar e permanecer à frente da tendência” é ser reconhecido como referência, e o reconhecimento tem a ver com identidade. “Estar à frente” é seguro e certo, justamente os sentimentos que mais fazem falta nos pós-modernos.

Algumas características já ditas sobre os produtos e sobre a forma de consumo na sociedade consumista, como a obsolescência embutida, o rápido e fácil descarte, a renovação constante dos bens, a falta de apego, a perda da noção de perfeição, a falta de anseio pela eternidade, o constante estar em movimento etc, podem e são completamente aplicáveis à construção da identidade do indivíduo pós-moderno. A identidade precisa ser renovada constantemente, é um “dever disfarçado de privilégio”. A limitação de escolhas pelo passado é negada, fazendo com que haja uma enorme facilidade em “renascer”; não é simplesmente uma busca por ser alguém melhor, mas várias tentativas, sem compromisso, de ser alguém diferente, autêntico, “à frente da tendência”.

Todos esses fatores de construção de identidade são superlativos na esfera virtual (se é que existe a separação entre o virtual e o real). A renovação constante da identidade é facilmente percebida, por exemplo, na exclusão e construção de um novo perfil. E os motivos são os mais absurdos, sendo o principal o fim de um relacionamento amoroso. Também existem os usuários que têm mais de um perfil na mesma rede social.

Bauman traça um oposto muito forte entre o virtual e o real, o que é altamente questionável. Ele acredita que está acontecendo uma ampliação do mundo virtual sobre o mundo real, e que as relações inter-humanas estão se tornando cada vez mais descartáveis e individualistas. Se isso está acontecendo, acredito, não é pelo advento das redes sociais, e sim pela mudança do próprio homem pós-moderno. Não é uma simples relação de causa e efeito, são múltiplos motivos dados ao longo de séculos e a própria corrupção do homem que o transformou.

Um comentário:

  1. Oi, Letícia!

    Ótimo post! Faltava mesmo alguma perspectiva crítica em relação às proposições do autor.

    Um abraço!

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