sexta-feira, 22 de junho de 2012

E quando a cultura absorve a contra-cultura?[Júlia Amaral] #5

Quando redigi meu plano de trabalho, me propus a falar sobre o uso das estratégias de Culture Jamming por parte dos publicitários. Tal fato parece contraditório, visto que o princípio dessa prática é a subversão da propaganda. Entretanto, muitos publicitários utilizam-se das técnicas dos artistas de rua; cada vez mais, a publicidade é ousada e inusitada.  


A publicidade enfrenta uma crise comunicacional na qual o excesso de informações e anúncios acaba imunizando o cidadão contra eles mesmos. Nesse contexto, são necessárias práticas como o "marketing de guerrilha, com a finalidade de gerar um “reencantamento do olhar” que se perdeu pelo excesso, através de táticas envolventes e muitas vezes lúdicas para persuadir o transeunte a olhar para determinado anúncio (KLEIN, 2006, p.5).  Da mesma forma, a intervenção urbana, (...) dentro deste exagero visual e deste contexto de lutas busca inovar, criando situações que possam vir a transformar estruturas já cristalizadas dentro do sistema, e atrair a atenção do público, mas de maneira artística e singular, se diferenciando das imagens convencionais trazidas pela mídia e culturas de massa."[1].


Buscando estabelecer as semelhanças entre arte urbana e publicidade, retornei à monografia de Thomas Hernandez. Para determinar se a propaganda absorveu as estratégias da arte das ruas ou o contrário, seria necessária uma pesquisa histórica aprofundada. Para justificar meu título, o que posso dizer em defesa da tese de que "a cultura absorveu a contra-cultura" é que Jay Conrad Levinson, o pai do Marketing de Guerrilha, relatou que a primeira ação desse tipo aconteceu em 1920 [2]; e JR, o artista tema do meu último post, afirmou no seminário de Arte e Propaganda do Festival de Cannes 2012, onde ele foi aplaudido de pé, que arte urbana é a forma mais antiga de propaganda. Ao comentar a apresentação de JR, Rui Piranda fez uma interessante comparação, dizendo que na arte urbana, a cidade vira mídia, as populações clientes e o mundo consumidor. 


Além de buscar similaridades entre propaganda e arte urbana, procurei pela apropriação desta por parte daquela. O artigo de Alex Glynn me forneceu bastante referências para o assunto. Encontrei exemplos de diversas marcas, como a Nike, que fez um aplicativo para que corredores criem percursos de corrida que tenham como cenário ruas grafitadas  e promoveu uma ação em comemoração ao Dia do Graffiti. 


Ação da Nike em Atenas, em que era possível "grafitar" seu tênis.


A rede de restaurantes Spoletto lançou uma linha de pratos assinada por artistas urbanos e a Adidas uma promoção em diversas cidades envolvendo Facebook, graffiti e produtos  Fede explica essa atração dos publicitários pelo graffiti ao dizer que "quando um movimento, seja artístico ou musical, traz algo fresco, novo, original, as marcas querem usá-lo", seja na publicidade ou no design gráfico, ainda que eles não pintem muros, as técnicas e o estilo do graffiti são imitados." [3]


Além do conceito de carro urbano, esse comercial da Nissan apresenta peças de graffiti.
A estética de arte urbana também esteve presente nos anúncios em outras mídias.


Visto que essa disciplina objetiva que criemos referências em determinado assunto, acredito que ela cumpriu com seu propósito. Todo o material pesquisado foi de grande valia para que eu desenvolvesse o projeto que inicio agora: o trabalho, que começou nesse blog está se expandindo para um tumblr, específico sobre arte urbana em Belo Horizonte. A página documentará intervenções em BH e entrevistas com artistas de rua. 


Referências bibliográficas:


[1] HERNANDEZ, Thomas Marcelo Fernandes. Marketing de Guerrilha e Intervenção Urbana: a luta simbólica por atenção no espaço urbano. Disponível em: http://www.carosouvintes.org.br/blog/wp-content/uploads/15.mktgguerrilha.pdf . Acesso em 20 de junho de 2012.


[2] LEVINSON, Jay Conrad. Marketing de Guerrilha. Editora Best Business, 2010, 574 p.


[3] PIRANDA, Rui. Meu único limite é a minha responsabilidade. Disponível em: http://www.meioemensagem.com.br/cannes/2012/diario/2012/06/20/Meu-unico-limite-e-a-minha-responsabilidade-.html . Acesso em 20 de junho de 2012.

2 comentários:

  1. Oi, Júlia,

    Acho que houve algum problema na postagem... Só aparece uma frase.
    Um abraço,

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    Respostas
    1. Desculpe, Danila.
      Só hoje voltei ao blog pra escrever o relatório e percebi o erro.

      Agora está tudo certo?

      Abraço.

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