segunda-feira, 18 de junho de 2012

Show da Fé: Análise do discurso, do cenário e de outras estruturas [Pedro Mol] #4


 O post dessa semana seria sobre a influência do crescimento da mídia confessional cristã protestante em outras mídias não confessionais, como é o caso dos jogadores que pedem, por fazer 3 gols no brasileirão, músicas "evangélicas" no programa Fantástico da Rede Globo. Porém, por indicação dos orientadores, analisarei um programa de grande importância na vertente "góspel" da sociedade brasileira. Exibido há 13 anos na TV aberta, atualmente em 3 canais, incluindo a Rede Bandeirantes, o programa é o de maior alcance à família brasileira, estando presente também em outros países e em todos os continentes, se compararmos a outros programas com esse intuito. O apresentador é o fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus (local onde ocorre o programa), o missionário R.R.Soares. O programa tem um foco evangelístico e deseja levar a palavra de Deus para casa do maior número de pessoas possível. Em sua estrutura, o local (sede da igreja no centro de São Paulo) é bastante parecido com um teatro ou um cinema, de modo que toda a platéia vê o que acontece. É interessante que na medida que a filmagem valoriza a captação de ângulos de profundidade, há a impressão de que a igreja é imensa quando, na verdade, não é. No ano passado, eu estive lá e custei a acreditar que aquele seria o mesmo lugar no qual ela filmado o programa. Portanto, a idéia de imensidão, de grandiosidade, que acompanha a exaltação de um programa com o nome "SHOW" está contida desde o seu espaço físico. O cenário também merece destaque. A imagem de um céu azul com nuvens branquinhas, ou seja, o "céu perfeito", atrás do apresentador sugere uma paz que acompanha o discurso do missionário, com tom e timbre de serenidade e tranquilidade. Os "closes" no rosto do apresentador o colocam numa posição de extrema confiança, de verossimilhança no que diz, como se estivesse, de certa forma, imune a qualquer proferir enganoso.




  Ao contrário da maioria dos programas desse cunho, o discurso do missionário é um tanto quanto mais calmo. Sem alterações bruscas no timbre de voz, o apresentador parece acalmar o coração de quem espera por uma palavra de encorajamento de de amor.
Os quadros do programa são "Novelas da vida real", " O Missionário responde", "Abrindo o coração" e "Missões em Foco", quadros esses que aproximam o telespectador e o espectador ao apresentador e ao conteúdo/mensagem do programa, mostrando que as boas novas que ele prega podem fazer efeito de verdade e que o objetivo do programa é ajudar quem precisa. A gesticulação moderada de R.R. transmite uma linguagem de proximidade com o espectador, não adotando uma pregação imperativa, que cobra das pessoas ou que as agrida. Minha vó, uma senhora de 67 ano,  assiste ao programa. Ela não pode ir a igrejas porque cuida do meu avô que é doente. Diante dessa situação, uma pesquisa de recepção foi feita por mim a ela. Veja alguns trechos importantes. "Eu gosto do programa dele. Acho ele manso e suave para falar, gosto da pregação dele, o que ele expõe ou explica sobre a bíblia. Ele não impõe o raciocínio dele". Quando perguntei sobre quem assiste ao programa, minha vó respondeu dessa forma: "são pessoas que às vezes assistem o programa por não ter opção e gostam. Muitas pessoas convertem através desse programa que às vezes assistem sem querer. Também há pessoas que não podem ir a igreja, como é o meu caso". Falando do missionário, ela me disse: "Ele é autor, compositor. Algumas músicas que são tocadas no programa são mais animadas, mais incisivas e algumas músicas são de meditação, com letra e música belíssimas. Ele fala que não é ele que salva nem cura ninguém. É a fé. Ele é só o instrumento usado por Deus. Ele tem livros de mensagens e é sábio na hora de falar, sem fazer terrorismo. Ele fala pra mim, eu concordo com o que ele faz e fala, compartilho com a idéia dele, na maioria dos casos."
  A entrevista só confirma o que foi proposto acima, na questão da suavidade e da tranquilidade transmitidas.  Minha vó ainda falou: " por que ele faria uma pregação bravo,  brigando como acontece em outros programas, para piorar os problemas que todo mundo já enfrenta em casa? Não adiantaria pra mim. Eu não ia assistir."

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