quarta-feira, 27 de junho de 2012

As várias faces da Jornada do Herói [Paula Pinheiro] #5


Rambo me causou sentimentos contraditórios. Achei incrivelmente bem construída, de maneira sutil, a crítica à sociedade americana após a Guerra do Vietnã, ao regime capitalista e ao tratamento dado aos ex-combatentes, mas a narrativa propriamente dita deixou muito a desejar. Durante quase todo o filme, me senti entediada. Depois da travessia do primeiro limiar, quando Rambo foge para a floresta, o filme se dedica basicamente a reafirmar a supremacia do veterano de guerra e abandona o drama psicológico pelo qual ele passa. Com isso, o filme reduz Rambo a um herói sobre-humano, capaz de superar todos os desafios com relativa facilidade – ou seja, o transforma em um herói entediante. O tratamento dado à questão psicológica, abordada em três cenas e resolvida em uma, também me frustrou – a impressão que tive foi que essa questão serviu apenas de plano de fundo para as cenas de ação.

Drive, por outro lado, me surpreendeu. Apesar de elementos do trabalho de Campbell serem identificados na narrativa, ela se afasta bastante dos estágios da Jornada, sem que isso seja, contudo, uma falha. Fica claro que a estrutura peculiar do filme se trata de uma escolha estética do diretor.

A conclusão a que chego com esse trabalho, depois de assistir oito filmes de diferentes gêneros e épocas, é que de fato a Jornada do Herói é bastante maleável e pode assumir diferentes formas. Desde a comédia besterol Se beber não case até o eterno Um corpo que cai de Hitchcock, os elementos do trabalho de Campbell se fazem presente, mesmo que de forma sutil e intrínseca ao padrão Hollywood. Por mais que sejam ornamentados de maneiras diferentes, a maior parte dos filmes tem o mesmo tema fundamental: a superação por parte de um ser humano de seus traumas e de suas falhas de caráter – ou seja, a Jornada do Herói.

Nenhum comentário:

Postar um comentário