A estética de Shohei Imamura
é a que mais valoriza o real no que se trata da nouvelle vague. Ele vai até o
ambiente rural e tenta captar vislumbres de uma verdade japonesa que se
encontra naquele cotidiano do agricultor e do camponês. Longe de discussões
politicas ou do deslocamento urbano. Imamura filma o interior do Japão e a
partir daí desenvolve suas preocupações com o universo dos sonhos e alimenta os
inúmeros elementos que o contrapõe daquele cinema de Yasujiro Ozu, ao qual o próprio
Imamura já fora assistente nos seus anos de Shochiku¹.
Mas Shohei vai além, e quer
tragar com a câmera os instintos animalescos dos homens, a selvageria escondida
pela civilidade e não poupa sexo, tragédia e brutalidade para mostrar isso.
Nesse meio absurdo e caótico, surge uma figura feminina que se ergue com força
e potencialidade, e se é acometida com armas vis, utilizará apenas elas para contra-atacar.
Como David Desser coloca em “Eros plus Massacre”², em Imamura a mulher revida, é apaixonada e tão
irresponsável e egoísta quanto os homens que as cercam. No filme A mulher inseto (Nippon konchuki,1963) ele
utiliza uma frieza de um cientista social para filmar a mulher que trabalha, em
Desejo Profano (Akai Satsui, 1964) há
o feminino doméstico e a constante violação sexual da mulher que somente na ferocidade
sobrevive nesse meio corruptível, chegando em Os Pornógrafos (Jinruigaku
nyûmon,1965) que desvinculado de qualquer grande produtora e privilegiando uma
plasticidade fantástica ele satiriza a luxúria dos homens.
A Mulher das Dunas |
Hiroshi Teshigara por sua vez, apesar de também inserir o papel feminino nos seus filmes diferente da do cinema clássico, utiliza o enfoque surreal em pleno contato com essa veia da realidade documental para abordar o corpo humano fragmentado, identidades que se perdem em meio ao absurdo fantasioso da reflexão e a crueza do real. O diretor abusa de uma estética incrível e de uma beleza plástica assustadora para compor seus planos e enquadramentos fantásticos. Em A Mulher das Dunas (Suna no onna,1964), um dos filmes mais impressionantes que eu já vi dessa geração do cinema japonês, há uma construção de um mundo obsessivo e único em que a areia, a loucura e o sexo imperam nesse ambiente árido. Com a Cilada (Otoshiana,1962) e O rosto de um outro (Tanin no kao, 1966) Teshigahara formula ponderações ainda mais profundas sobre os homens na sociedade e suas crises que os desarticulam.
cena de A Mulher das Dunas
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¹ NAGIB,
Lucia. Em torno da nouvelle vague japonesa. Campinas, SP: UNICAMP, 1993. 183p.
² DESSER, David, Eros plus Massacre – An Introduction to
the Japanese New Wave, Indiana University Press, 1988
Oi, Johnatan!
ResponderExcluirPelos seus posts, é possível perceber que você se dedicou à observação do movimento no Japão e que deu conta de ver e refletir sobre os filmes propostos, a despeito de serem muitos!
Parabéns!
Um abraço,