Rambo me causou
sentimentos contraditórios. Achei incrivelmente bem construída, de maneira
sutil, a crítica à sociedade americana após a Guerra do Vietnã, ao regime
capitalista e ao tratamento dado aos ex-combatentes, mas a narrativa
propriamente dita deixou muito a desejar. Durante quase todo o filme, me senti
entediada. Depois da travessia do primeiro limiar, quando Rambo foge para a
floresta, o filme se dedica basicamente a reafirmar a supremacia do veterano de
guerra e abandona o drama psicológico pelo qual ele passa. Com isso, o filme
reduz Rambo a um herói sobre-humano, capaz de superar todos os desafios com
relativa facilidade – ou seja, o transforma em um herói entediante. O
tratamento dado à questão psicológica, abordada em três cenas e resolvida em
uma, também me frustrou – a impressão que tive foi que essa questão serviu
apenas de plano de fundo para as cenas de ação.
Drive, por outro
lado, me surpreendeu. Apesar de elementos do trabalho de Campbell serem
identificados na narrativa, ela se afasta bastante dos estágios da Jornada, sem
que isso seja, contudo, uma falha. Fica claro que a estrutura peculiar do filme
se trata de uma escolha estética do diretor.
A conclusão a que chego com esse trabalho, depois de assistir
oito filmes de diferentes gêneros e épocas, é que de fato a Jornada do Herói é
bastante maleável e pode assumir diferentes formas. Desde a comédia besterol Se beber não case até o eterno Um corpo que cai de Hitchcock, os
elementos do trabalho de Campbell se fazem presente, mesmo que de forma sutil e
intrínseca ao padrão Hollywood. Por mais que sejam ornamentados de maneiras
diferentes, a maior parte dos filmes tem o mesmo tema fundamental: a superação
por parte de um ser humano de seus traumas e de suas falhas de caráter – ou seja,
a Jornada do Herói.
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