No último capítulo do livro Vida
para consumo, Zygmunt Bauman fala sobre as baixas colaterais do consumismo. O
assunto das redes sociais não é mencionado, mas dá pra entender e perceber muito
da relação da formação de identidade na modernidade líquida no mundo fora da
virtualidade.
A colateralidade é um conceito há pouco introduzido, que segundo o
próprio autor significa “desculpar ações prejudiciais, justificá-las e
eximi-las de punição com base na ausência de intencionalidade” (p. 149). É o
que acontece, por exemplo, quando um homem bomba cumpre seu trabalho. O alvo é
atingido, mas uma grande parcela de inocentes é com ele atingida, e esse é o
efeito colateral: o grupo de inocentes não fazia parte do alvo, mas fez parte
do processo e do resultado enquanto o objetivo estava sendo cumprido.
Acontece que o principal efeito
colateral do consumismo pós-moderno é a subclasse.
Isso mesmo, subclasse. Então, a ordem
social mundial não é mais posta em diferentes classes (como se não bastasse),
mas em classe e não-classe. Os membros da subclasse
são os “consumidores falhos”, pessoas sem valor de mercado. Eles não faziam
parte do alvo do consumismo, mas acabaram sendo afetados por ele. E como efeito
colateral, de maneira completamente negativa.
Bauman diz que os pobres de hoje
são os “não consumidores”. Por causa dessa falha no ato consumista do pobre,
ele também não tem nenhum tipo de afirmação social. Os mais pobres como os
mendigos e moradores de rua são desobrigados de vida social, comunitária, e,
segundo o autor, de deveres éticos também. Eles simplesmente não são enxergados.
Uma das possíveis explicações pode ser que, como acredita a doutora Paula
Sibilia, na pós-modernidade se é o que se vê. A crença naquilo que não se vê,
que não é palpável foi completamente enfraquecida e finalmente descartada pela
grande maioria (como a beleza interior). Visibilidade é identidade e
autenticidade. Logo, os “consumidores falhos” estão longe de ser alguém.
Oi, Letícia, ótimo você ter incluído a Paula nas suas observações. Senti falta apenas da perspectiva crítica do último post. Um abraço!
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