O mundo do entretenimento japonês é dividido em diversos gêneros que tem
especificidades direcionadas para seus diferentes públicos alvos. No trabalho
de Miyazaki podemos encontrar muitas similaridades com o estilo Shōjo, voltado
para o público jovem feminino e que foca em temas do relacionamento romântico e
emocional humano.
As heroínas são meninas pré-adolescentes, charmosas e
não-sexualizadas, que enfrentam perigos e situações que simbolizam os rituais
de amadurecimento. A maioria das personagens de Miyazaki poderia ser classificada sob essa categoria, já que o tema da passagem de idade é recorrente em seus
filmes, mas há uma diferença. Enquanto personagens Shōjo são ultra-femininas, passivas e desastradas, já pudemos perceber
que o diretor não constrói seus personagens nessa linha.
Típica Shōjo: Lindas, mas descoordenadas e às vezes até classificadas como "burra"
O
Shōjo representa um nicho que ainda está construindo sua identidade, procurando
referências de como se comportar e podem encontrar uma referência positiva nos
filmes do Estúdio Ghibli. As personagens de Miyazaki são fortes, pró-ativas e
indepententes, mas também incorporam características como o zelo, a compaixão,
sacrifício; encorajando-nos a reavaliar nossas noções sobre o que consideramos tipicamente
“feminino” e “masculino”.
Tendo
dito isso, acho importante agora uma rápida análise do filme “Um Castelo no Céu”,
que tem uma dupla como o centro da trama: Sheeta e Pazu. Sheeta é a princesa de
um reino que se movimenta sob as nuvens e está sendo perseguida por uma gangue
que quer se apossar de seus poderes mágicos e uma típica heroína Shōjo. Ao
contrário das personagens que conhecemos anteriormente, Sheeta não é ágil ou atlética
e é vista com freqüência durante o filme sendo arrastada por Pazu, que assume o
controle da dupla e é claramente mais habilidoso fisicamente.
Sheeta e Pazu: simplesmente donzela e príncipe?
Apesar disso, ela
sua determinação e bravura são cruciais durante o clímax do filme. E não
podemos esquecer da importante Mama Dola, que pode ser considerado o oposto de
Sheeta: ela é a capitã de um avião e lidera uma trupe de homens piratas, que
seguem seus comandos cegamente.
Novamente
Miyazaki desafia as concepções de gêneros não se restringindo aos clichês
femininos que vemos em tantos filmes por aí. Mulheres (e homens!) possuem milhões
de facetas e ao invés de condensá-los em simples papéis estereotipados de “macho-alfa”,
“donzela em apuros”, Miyazaki elabora personagens complexos e humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário