segunda-feira, 30 de abril de 2012

Nuberu Bagu - A Nouvelle Vague Japonesa [Johnatan Ferreira] #1



O cinema como grito de liberdade. Talvez seja por esse caminho que a Nuberu Bagu – ou Nouvelle Vague Japonesa – percorre. Os tempos já eram outros e o movimento que se iniciou num Japão da década de 60 que ansiava e ao mesmo tempo era acometido por mudanças, encontrou como deflagrador os estúdios que começavam a abrir portas para os jovens recém-formados que queriam trabalhar. Segundo Lucia Nagib, no livro 'Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa", o grande estúdio Shochiku admitiu Nagisa Oshima, que no fervor de sua juventude ajudaria a implantar um novo cinema japonês, quebrando a ditadura dos estúdios, mas começando justamente sob a tutela deles.

Seshun zankoku monogatari

Em “Conto Cruel da Juventude” (Seshun zankoku monogatari,1960), os personagens principais se incendeiam agindo e confirmando a existência caótica nesse mundo quase desprovido de moralidade. O filme manifesto de Nagisa Oshima traz para esse novo cinema que começava a se delinear, a insurgência contra os padrões do gênero que as produtoras de cinema da época relutavam por seguir. Subvertendo alguns conceitos formais e estéticos, ele valorizou de vez a descontinuidade narrativa, as elipses, a dinamicidade da trama intercalada pelos cortes bruscos e o uso de uma câmera móvel longe do cinema clássico estático. Se houve alguma ruptura com o cinema de Ozu, Mizoguchi e Kurosawa, ela provavelmente se iniciou aqui.

No mesmo ano com “O Túmulo do Sol” (Taiyo no hakaba,1960), o filme que eu mais gostei do diretor, Oshima discorre sobre a realidade social japonesa. Foca-se num bairro pobre do Japão, em que a violência é tratada como algo banal e as mortes acontecem como casualidades. Num mundo sujo e precário, onde o dinheiro é custoso e o sol que se põe sela esse meio na mortalidade selvagem e bruta que o caracteriza, deixando somente as sombras que escondem os vagabundos e desabrigados que permeiam essa realidade impiedosa. "Algo irá mudar?" brada uma personagem no final e as expressões atônitas e debochadas encaram a pergunta tendo somente a sujeira e o suor no rosto como resposta.


Taiyo no hakaba

Noite e névoa no Japão” (Nihon no yoru to kiri,1960), filme com alta reflexão sócio-política acrescido de longos discursos e planos-sequencias, é um ataque de frente à sociedade japonesa. O estúdio Shochiku não agradou da radicalização do tema e dessa forma Oshima sai da produtora, praticamente inaugurando o cinema independente no país. Mais tarde com “Um Trato em Canção Japonesa Pornô"  (Nihon shunka-ko,1967)” ele introduz fortemente a matiz do sexo e o erotismo como arma politica, amplificando o teor revolucionário em “Morte por enforcamento” (Koshike,1968) e “Diário de um ladrão Shinjuku” (Shinjuku dorobo nikki,1969) que valorizam a fragmentação de uma linguagem livre e politicamente sedutora.

2 comentários:

  1. Oi, Johnatan! Excelente post! Sugiro apenas que você explicite as referências utilizadas para elaboração do texto. Um abraço!

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    1. Obrigado pelo retorno, e com certeza nos próximos evidenciarei as referências.
      No post em questão, estava lendo o "Em Torno da Nouvelle Vague Japonesa" da Lucia Nagib. O livro foi essencial para a compreensão do Japão na época da Nuberu Bagu e foi dele que extrai informações como o país em questão, que queria mudanças - ele não estava totalmente recuperado da segunda guerra mundial e era bombardeado com a ocidentalização -, o fato dos estúdios admitirem jovens recém saídos da universidade, como a Shochiku fez com o Nagisa Oshima e também do mesmo estúdio brigar com Oshima, por fazer 'Noite e névoa no Japão', saindo da Shochiku e construindo depois esse cinema independente sem apoio das grandes produtoras e estúdios da época que mandavam na produção cinematográfica japonesa.
      Abrç!

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